sexta-feira, 17 de maio de 2019

Gritos de Poesia


Poesias…
Gritos de socorro petrificados
Na vã fotografia das palavras.
Berros agudos e surdos que não calam
E fluem céleres no silêncio!
Atrocidades? Espinhos pontiagudos,
Que rompem o tecido podre das pedras,
Que dormem mudas, com voz pequena e frágil...
Agredidas pelos gritos intensos, aterrorizadores
Mas sonolentos…não dormem
Porque receiam o fim!
Dormem acordadas um sono que não existe
À espera do beijo depurador para acordar…
O beijo boçal e único beija
Os gritos ilesos que ressurgem do salivar!
Sua saliva trivial, mas doce,
Abraça as pedras lúgubres…
Frémitos de água que escorrem
E não molham, beijos secos!
As pedras adormecem dos gritos
De quem se só ouve já um lamento…
Uma indignação de espanto…
Um berrar de lânguida de vã e nua,
Despido de sedução e sensualidade!
Gemidos silenciosos e neutros,
De efeito raso e vazio,
Que não são ouvidos,
Porque não existem bons ouvintes.
Gritos ambulantes e objetivos,
Gritos na hipérbole da sinestesia,
Nas palavras abandonadas e magoadas.
Num sono fingido…
Gritos de poesia!

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Quero ser...


Quero ser a água que te banha,
Quero ser o sol que te aquece.
Quero ser o lençol que te abraça
À luz da noite que adormece.

Quero ser rosa do teu jardim,
De entre as outras ser a mais bela.
Quero ser a cor do jasmim
Que espreita na tua janela.

Quero ser a estrela no céu,
Que ganha o rosto com o anoitecer.
Quero ser lágrima de um olho teu

E ter em ti o meu nascer.

sábado, 27 de agosto de 2016




"EU SENTEI E CHOREI. Conta a lenda que tudo o que cai nas águas deste rio - as folhas, os insectos, as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito. Ah, quem me dera que eu pudesse  arrancar o coração do meu peito e atirá-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças.
Nas margens do Rio Piedra eu sentei e chorei."

in Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei, de Paulo Coelho

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Às vezes...




Às vezes,
Não tenho a certeza de que o céu é infinito
E de que o seu sol ainda é amarelo.
Não tenho a certeza de que o som é invisível
E de que o teu sorriso é de todos o mais belo!

Às vezes,
Não tenho a certeza de que os trevos dão sorte
E de que os vulcões cospem lava ardente.
Não tenho a certeza do que me vai na alma
E do que o meu coração deveras sente!

Às vezes,
Não tenho a certeza de que existe um Deus
E de que ele está em toda a parte.
Não tenho a certeza que existe também o amor
E se, por isso mesmo, devo, ou não, amar-te!

Às vezes,
Não tenho a certeza da minha vontade
E de que quero aquilo que julgo querer.
Não tenho a certeza do que acho ser verdade,
Apenas de que quero amar-te até morrer!


domingo, 8 de setembro de 2013


Abraça-me com se não houvesse amanhã!
Como se o Mundo acabasse hoje, agora, neste momento...
Abraça-me como as tulipas se abraçam
enquanto dançam ao som do vento.

Abraça-me como se não houvesse amanhã!
Como se não houvesse mais uma oportunidade...
Abraça-me como o mar abraça a areia
na bravura de uma tempestade.

Abraça-me como se não houvesse amanhã!
Como se  tivesses medo de me perder...
Abraça-me como se abraça quem ama,
e se julga nunca mais o vir a ter.


segunda-feira, 22 de abril de 2013




"Como é fácil ser difícil. Basta ficar longe dos outros e, dessa maneira, nunca vamos sofrer. Não vamos correr os riscos do amor, das decepções, dos sonhos frustrados.
Como é fácil ser difícil. Não precisamos de nos preocupar com telefonemas que precisam de ser feitos, com pessoas que pedem a nossa ajuda, com a caridade que é necessário fazer.
Como é fácil ser difícil. Basta fingir que estamos numa torre de marfim, que jamais derramamos uma lágrima. Basta passar o resto da nossa existência a representar um papel.
Como é fácil ser difícil. Basta abrir mão do que existe de melhor na vida."

in Maktub
Paulo Coelho

domingo, 12 de agosto de 2012

O coração de mãe não é só
um músculo que bate sem parar.
É um lugar mágico onde acontecem
as mais extraordinárias das coisas...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

quarta-feira, 13 de abril de 2011


"A educação da imaginação exige

a mudança de paradigma, ou seja,

o 'reencantamento' que levaria ao seu

devido lugar 'a dimensão simbólica'

como mediadora."


Paula Carvalho

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011



Tenho-te e não te tenho!
E nesta vontade imensa de te ter,
penso em te saber...
Tenho-te e não te tenho!
E fico sem a certeza de que alguma vez te
tive...
Tenho-te e não te tenho!
E se alguma vez tive,
porque não ficaste comigo?
Tenho-te e não te tenho!
E o meu leito é só saudade,
dessa saudade transparente...
que aparece quando voltas no meu
devaneio!
Tenho-te e não te tenho!
E tenho um rio de amargura
à espera de desaguar no mar...
Porque tenho-te e não te tenho!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um caso de poesia...

"Paulo tinha fama de mentiroso.
Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da
independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que
caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito
queijo, e ele provou e tinha gosto a queijo. Desta vez Paulo não só ficou
sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra
passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador
para transportá -lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico.
Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
– Nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia."

in "Histórias para o Rei" de Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Maktub


"Os monges zen quando querem


meditar sentam-se diante de


uma rocha: «Agora vou espe-


rar que esta rocha cresça um pouco», pen-


sam.




Diz o mestre:


Tudo à nossa volta está a mudar


constantemente. A cada dia, o Sol ilumina


um mundo novo. Aquilo a que chamamos


de rotina está repleto de novas propostas


e oportunidades. Mas não percebemos que


cada dia é diferente do anterior.


Hoje, em algum lugar, um tesouro


espera-o. Pode ser um pequeno sorriso, po-


de ser uma grande conquista - não impor-


ta. A vida é feita de pequenos e grandes


milagres. Nada é aborrecido porque tudo


muda constantemente. O tédio não está


no mundo mas na maneira com vemos


o mundo.


Como escreveu o poeta T. S. Eliot:


«Percorrer muitas estradas / voltar para casa


/ e olhar tudo como se fosse pela primeira vez.»"




in Maktub de Paulo Coelho

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

"A Poesia torna-nos pessoas melhores"

"A tarde nem a meio vai sequer e Filipe Lopes prepara-se para enfrentar a quarta plateia do dia. Os sinais de cansaço ou enfado estão, todavia, ausentes da expressão deste psicólogo, que há 15 anos, como membro do grupo Contador de Histórias, tem percorrido o país em centenas de sessões que visam aproximar os cidadãos da literatura e, acima de tudo, da poesia, devoção de longa data do co-fundador desta pequena empresa de prestação de serviços culturais sediada em Tomar.
"Foi sempre isto que quis fazer", confessa Filipe, que em nenhum momento se arrepende da opção profissional tomada há mais de uma década: "Faço mais pela saúde mental das pessoas lendo poemas e outros textos literários do que num gabinete a dar consultas. É uma realização pessoal muito grande".
Pela frente, tem agora duas dezenas de estudantes do 10º ano da Escola Secundária Diogo de Macedo, no Olival, em Vila Nova de Gaia. Se o entusiasmo não é propriamente o sentimento dominante entre os jovens, Filipe Lopes não se mostra demasiado preocupado com a apatia inicial.
Enterrar os mitos
Hábil conhecedor da psicologia de massas, não tarda a conquistar a plateia, começando por reconhecer que o ensino tradicional está longe de fazer tudo o que pode pela literatura, ao dissecá-la em vez de tentar cativar os alunos.
O resultado, garante o declamador, são gerações sucessivas de jovens erradamente convencidos de que "a poesia é uma seca", quando, na verdade, é o oposto. "Os programas educativos estão concebidos para que os jovens não gostem de ler", desabafa, em tom crítico, mas iliba os professores de quaisquer responsabilidades nesse domínio, embrenhados como estão "no cumprimento de tantos objectivos e tanta papelada que já não lhes sobra tempo para mais nada".
Durante quase 50 minutos, numa sessão precisamente intitulada "Então isto é que é a poesia?", Filipe Lopes enceta uma viagem guiada pelos encantos da palavra poética. Luís de Camões e Florbela Espanca são os primeiros deste cardápio literário de excepção, intercalado sempre por comentários espirituosos que cimentam o tom de informalidade pretendido. Seguem-se, entre tantos outros, Mário-Henrique Leiria, Sebastião da Gama e, até, José Luís Peixoto, amigo do declamador desde os tempos em que ambos escreviam no extinto suplemento "DN Jovem".
A plateia há muito que parece ter vencido as resistências iniciais. E mesmo os mais distraídos no arranque da sessão deixam de lado a irrequietude habitual para se tornarem membros activos do recital, lendo em voz alta poemas de autores que se habituaram a olhar com cepticismo. O segredo? Tratar os jovens com sentido de responsabilidade, sem embarcar nos facilitismos, é um bom princípio, até porque "a base existe. É preciso apenas ter disponibilidade mental para trabalhá-la", defende.
Filipe Lopes assegura que o fomento da leitura é apenas o princípio de tudo. Em última instância, acredita que a literatura é um vector fundamental para a tão desejada educação para a cidadania: "Pessoas que lêem muito provavelmente terão mais consciência social do que as outras. Por isso, gosto de acreditar que a poesia ajuda-nos a sermos melhores".


in "Jornal de Notícias" 26 de Novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Carpe Diem



O mistress mine, where are you roaming?

O stay and hear! your true-love's coming

That can sing both high and low;

Trip no further, pretty sweeting,

Journey's end in lovers' meeting--

Every wise man's son doth know.



What is love? 'tis not hereafter;

Present mirth hath present laughter;

What's to come is still unsure:

In delay there lies no plenty,--

Then come kiss me, Sweet and twenty,

Youth's a stuff will not endure.



William Shakespeare

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Poesia vai à Escola


No passado Sábado, dia 23, realizou-se na Biblioteca Municipal José Régio, em Vila do Conde, uma formação que tratou a poesia no contexto escolar.
O programa da formação teve como principais objectivos: definir a poesia, explicar o seu valor (lúdico/utilitarista e intrínseco), o lugar que ocupa no Currículo Nacional do Ensino Básico e no Programa de Língua Portuguesa do 1º Ciclo e na sala de aula e definir estratégias para ensinar a ler poesia.
Segundo Ruy Belo, " É preciso ensinar a poesia porque, embora como qualquer outra actividade, ela tenha aspectos inatos, é também uma coisa que se aprende".
Quero, desde já, deixar um agradecimento especial ao escritor João Manuel Ribeiro, o formador, que proporcionou a todas as pessoas que participaram na formação "A Poesia vai à Escola" um dia especial e, sobretudo, por ter explicado, de forma muito esclarecedora, o papel residual que a poesia deve ocupar na escola.

Deixo aqui um pouco do que foi "A Poesia vai à Escola":

Segundo Aristóteles, a poesia tem a função de despertar emoções.

Estudos empíricos mostram que a poesia melhora o ambiente de sala de aula porque estuda valores.

Em qualquer disciplina podemos ensinar a poesia.

A poesia é um texto aberto que faz a criança pensar porque diz muito mais do que lá está escrito.
A poesia educa a sensiblidade e o gosto e é uma forma de expressão que apela simultaneamente às dimensões cognitiva, emotiva e sensorial. (Neves)

Segundo Fernando Azevedo, a poesia é muitas vezes entendida como mera actividade museológica.

A poesia não se ensina, mostra-se.
A sua leitura deve fazer-se em voz alta, porque todas aquelas palavras aguardam uma voz para tomarem forma e figura. (Eugénio de Andrade)

Poesia é quando uma emoção encontrou o seu pensamento e o pensamento encontrou as palavras.

domingo, 24 de outubro de 2010

Barca Bela de Almeida Garrett (Folhas Caídas)
por Teresa Silva Carvalho

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Carta de um filho estudante


Coimbra, 29 de Julho 1858.

Minha querida Mamã,Depois de tantos trabalhos e sustos chegou finalmente o dia, em que
dando um suspiro

de alívio pude descansar sem cuidados; e por isso é que lhe escrevo debaixo da

agradável impressão de ter feito os exames e de me achar habilitado com os exames de
Instrução Primária, Francês, Latim, Lógica, Retórica, História e Geografia, Geometria, e
Introdução aos três Reinos da Natureza, e apto para me matricular em qualquer
Faculdade, a qual será a que o Papá e a Mamã escolherem.

Estou pois muito contente, não só pelo facto em si, como também pela alegria que com

isso terão todos os que por mim se interessam; e muito aliviado pois o fim do ano é o

maior Cabrion(1) que um pobre Estudante pode ter.

Agora pois estou em Férias, e espero passá-las descansado, e lendo algum livro que

possa instruir-me, sem contudo ter o peso da Ciência: agora que lancei a Ciência nas

certidões, posso-me entregar um pouco aos meus passatempos favoritos de Literatura e

Poesia: são estes os meus divertimentos nesta terra, e confesso que tem para mim

milhares de atractivos, e que os prefiro a todos os outros.

Agora estou eu fazendo uma pequena tradução em verso, e estando pronta lha

mandarei, visto que a Mamã tem a suma bondade de ler as minhas modestas rabiscas.Não sei
se passarei aqui as férias: eu desejava ir uns 15 dias à Figueira, tomar banhos e

passear, pois esta vida de Estudante não é só monótona e incómoda, mas também

pode fazer mal sendo contínua: por isso mesmo é que se fizeram as férias, tempo de

descanso: além disso o meu estado de saúde pede esta pequena viagem: não que eu

tenha doença alguma grave, mas ando sempre com pequenos achaques tais como dor

de cabeça, febre, constipação, etc. Já vê a Mamã que preciso espairecer, e mesmo os

ares do mar fazem-me iludir um pouco, e transportam-me pelo pensamento aos belos e

saudosos tempos que aí passei. Quem me dera já o ano que vem, para lá ir, como o

Papá me prometeu: enfim, será quando Deus quiser!

Também lhe quero pedir um favor – Daqui até Novembro, tempo em que começam as

aulas, precisava ler alguns livros de Literatura filosófica, para não ir para a Universidade

com os olhos fechados sobre este ramo das Letras, que é necessário pela relação

íntima que tem com todos os outros: precisava pois comprar esses Livros, e é o favor

que lhe peço, o pedir ao Papá que me mande dinheiro para eles, que, para os que por

ora preciso, não será necessário mais que 5 ou 6 mil réis. Isto devia eu ter pedido

directamente ao Papá, mas não sei que acanhamento me deu, que tenho vergonha de

lho pedir, enquanto que à Mamã lho peço com mais confiança.

Peço-lhe me recomende muito a todos; Manas(2), André(3), Prima Anica(4) e Beza(5): a

esta última peço lhe dê um abraço da minha parte.~

Adeus minha querida Mamã

deite a sua bênção ao seu

Filho muito obediente e amigo

Antero


(Carta de Antero a sua mãe que saíu na Prova de Acesso ao Mestrado 20/09/2010)