sexta-feira, 24 de abril de 2009
Carta de uma vida inacabada
Queridos pais
Espero que quando lerem isto já não esteja cá para vos fazer sofrer mais.(...)
Então, eu pensei que agora era a minha vez de ir também para esse lugar sem sofrimento. Depois de ter caído da varanda do quarto andar, onde mora a Petra, e fiquei assim sem sentir as pernas e a sentir mal um dos braços, nesta cadeira que me tem de levar para todo o lado, fiquei realmente esquisita sempre aqui sentada. (...)
Acho que também estou a ficar tolinha, até porque na escola, em vez de prestar atenção, estou a fazer desenhos de meninas com asas que voam e voam pelos meus cadernos. Não sei se sou muito ou pouco deficiente, mas cada vez me convenço que sou muito, se não fosse assim, não veria tanta gente a perguntar o que vai ser de mim agora. É engraçado, mas o menino atrasado lá da escola um dia destes viu-me a chorar e veio dar-me um abraço sem dizer nada.
Quando chegar ao pé do mano, vou contar-lhe tantas coisas, falar-lhes de vocês e dos meus amigos. Ele vai gostar de saber e até vamos brincar muito porque, se esse tal lugar não tem sofrimento, mesmo que sejamos esquisitos ou tolinhos isso não tem importância.
Carta escrita por uma menina de 11 anos encontrada morta no seu quarto aos seus pais
in Jornal Académico UM 99 Ano V série III
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