Ontem de manhã, numa aula de Literacia , o meu professor pediu para lermos uns textos que trouxemos de casa.
Inicialmente, pensei em ler um poema de Eugénio de Andrade, "Adeus", depois decidi levar uns versos do livro "Sementes de Música para bebés e crianças".
Finalmente, acabei por ler aquilo que não tinha programado. Lembrei-me que tinha um texto do José Luís Peixoto no meu portátil e foi o que li.
Cada vez que leio este texto fico muito emocionada e ontem não foi excepção! Acho que o meu professor deve ter-se apercebido...comentou que gostou muito da minha partilha!
Já deixei aqui um excerto desse texto, em 29 de Julho, mas nunca é tarde para reler.
Espero que apreciem " Morreste-me"
"Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mágoa indiferente deste
mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo
isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o
dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a
sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no
nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas
palavras. Orienta-te, rapaz. Sim. Eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer,
em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho
alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que nunca mais poderei
ouvir. A tua voz calada para sempre. E, como se adormecesses, vejo-te fechar as
pálpebras sobre os olhos que nunca mais abrirás. Os teus olhos fechados para
sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai.
Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei."
mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo
isto é agora pouco para te conter. Agora, és o rio e as margens e a nascente; és o
dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; és o mundo todo por seres a
sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no
nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas
palavras. Orienta-te, rapaz. Sim. Eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer,
em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho
alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que nunca mais poderei
ouvir. A tua voz calada para sempre. E, como se adormecesses, vejo-te fechar as
pálpebras sobre os olhos que nunca mais abrirás. Os teus olhos fechados para
sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai.
Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei."