quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada! ...


Florbela Espanca

6 comentários:

  1. Nao conhecia este seu poema. "Quando eu morrer procura-me no mar" escrevia ela...


    "Acordo do meu sonho... E não sou nada! ... "

    Beijinhos amigos

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  2. QUEM SABE?

    Talvez seja tarde ou cedo
    Neste lago de tristeza
    Perder à noite o medo
    E sermos o luar da beleza

    Quem sabe se esta dor
    É apenas o passageiro
    Do instante derradeiro
    Que acende a luz do amor

    Eu sei que há este cansaço
    No sentido dos sentidos
    Não sejamos o compasso
    Da cela oca dos vencidos

    Sei que não tenho carisma
    No teu olhar de encanto
    E sei da força que cisma
    A chuva deste meu pranto

    Quem sabe se esta ternura
    Não será a flor do espaço
    Que guarda do teu abraço
    O amor que se procura

    Fujamos aos maus-olhados
    Da teia que nos torna estranhos
    Nas arenas dos trocados
    Entre as redes dos tacanhos

    Guarda esta mão amiga
    Que é o melhor abrigo
    De não sermos a cantiga
    Que se ouve ao mendigo

    Quem sabe se esta canção
    Não traduz a luz do dia
    Que nos servirá de guia
    Às bocas do coração

    Sei tudo o que se sente
    Quando se perde o desejo
    Da vida que não nos mente
    E do fogo que antevejo

    Fomos ambos bons amantes
    Na floresta dos mistérios
    Mas perdemos os restantes
    Em campas de cemitérios

    Quem sabe se os enganos
    Mudam as horas das rugas
    Reduzem tudo a sopranos
    E a fomes simples de fugas

    Talvez seja então a hora
    De sermos o que já fomos
    Rindo enquanto se devora
    O sumo do amor em gomos.


    Oeiras, 02/08/2009 - Jorge Brasil Mesquita
    www.comboiodotempo.blogspot.com

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  3. Afinal todos sonhamos um pouco como a poetisa...
    Não é assim?

    Um abraço

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  4. É os sonhos não nos largam, mas muitos ficam pelo caminho.
    Bjito Carla

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  5. Carla,
    Excelente escolha. Também uma minha poetisa eleita. Este seu poema é de grande profundidade e, convoca-nos ao que de mais profundo pode ter um sonho..., um sonho que pode ser tudo..., assim como pode ser nada...
    Mas continuamos a sonhar porque é o sonho que também nos faz acordar...

    Obrigada pelas tuas palavras num dos meus espaços, são sempre muito intensas, vão ao encontro com o que escrevo e sinto.

    Bjo

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  6. Cara Carla.

    Não somos nada, e somos tudo!!!
    Nada somos, quando pensamos sê-lo;
    E somos tudo, quando pensamos nada ser!!!

    Vou descobrindo que onde nada quis ser, sou tudo. E onde o quis, nada permanece.

    Recomendo um soneto da Florbela: "Esquecimento"

    Gosto de aqui estar.

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