"Quintas de Leitura", no Porto, celebram 100ª edição amanhã, quinta-feira. Êxito do ciclo surpreende até o mentor
Ontem
SÉRGIO ALMEIDA
SÉRGIO ALMEIDA
Em oito anos, tornaram-se uma referência incontornável do roteiro cultural portuense, com um público fiel e numeroso, sempre a crescer.
As "Quintas de Leitura", no Teatro do Campo Alegre, chegam amanhã à centésima edição e querem celebrar a data a preceito.
Surgiram em plena ressaca da Porto 2001, quando ainda subsistia a esperança de que a elevada quantidade de eventos da Capital Europeia da Cultura poderia ter continuidade. O desânimo que não tardou a instalar-se entre as hostes culturais da cidade em nada perturbou João Gesta, programador das "Quintas de Leitura" desde a primeira hora, que traçou logo nessa altura os objectivos: criar um ciclo de poesia com entrada paga em que os espectadores teriam acesso ao trabalho de criadores consagrados e emergentes não apenas na poesia, mas também noutras linguagens artísticas, da música, à dança, passando pelo vídeo e fotografia.
"O sucesso surpreendeu-me, quanto mais não fosse porque estamos a falar de regras ambiciosas. Pagar para assistir a espectáculos de poesia não era um hábito enraízado em Portugal", reconhece Gesta, que afirma dever tudo sobre a sua função a Joaquim Castro Caldas, o poeta responsável durante anos pelas célebres noites do Café Pinguim.
"Ciclo de boa saúde"
Primeiro no café-teatro e mais tarde no auditório do Teatro do Campo Alegre, o ciclo não tardou a sedimentar o seu prestígio, graças ao que João Gesta considera ser "uma mescla equilibrada" entre autores já renomados e outros a caminho disso.
"O ciclo continua de boa saúde ao fim deste tempo todo. As bases estão consolidadas, mas é preciso também oferecer às pessoas propostas inusitadas e surpreendentes. A poesia é sobretudo um risco", sintetiza João Gesta.
A frequência da participação de autores como Valter Hugo Mãe, José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares não tem isentado os organizadores de críticas quanto à repetição de fórmulas. João Gesta discorda do reparo, frisando que cada participação de um dos referidos autores equivale a um novo espectáculo, com outros intervenientes e protagonistas.
"Além disso, é o público que exige a sua presença. No dia seguinte à presença do José Luís Peixoto, por exemplo, há pessoas que ligam para o teatro a perguntar quando será a sua próxima vinda", confessa.
Eleger momentos marcantes em 99 edições é tarefa árdua, à qual Gesta, porém, não se furta, destacando o momento em que Rui Reininho simulou atirar para a assistência um recipiente cheio de urina que, afinal, era chá... "Aquilo poderia ter acabado mal", sorri o mentor do evento, patrocinado pela Fundação Ciência e Desenvolvimento, que confessa jamais ter sentido pressões para convidar determinados autores. "No momento em que isso acontecesse, cessava funções", diz.
in Jornal de Notícias, 24 de Fevereiro de 2010
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