quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Fado português


Fado português
O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão, meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

José Régio

6 comentários:

  1. Carla
    Obrigado por nos trazer um enorme vulto da cultura portuguesa.


    Abraço

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  2. Carla,
    Régio é também um dos meus poetas, acompanha-me desde sempre, não me canso de o ler e reler, assim como Eugénio de Andrade e tantos outros.
    Obrigada pelas tuas palavras num dos meus espaços, são sempre bem vindas, a tua presença é importante e toca-me muito. Também consegues emocionar-me. Se passares pelo animalucemia, vais perceber porque o dia de hoje ainda que especial, não é fácil. Mas há que seguir porque é o que posso fazer de melhor e, sei que é o que o meu Pai quer. A ele devo tudo, por isso, quero que ele continue a sentir orgulho na filha, na sua eterna menina.
    As saudades são tantas, a dor também é grande, mas a legria de o saber na minha vida consegue ser maior porque ele existiu e irá sempre existir para mim e, em mim.
    O meu obrigada.

    Bjo com muita Luz

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  3. o Fado é a alma de Portugal. Eu cá gosto de ouvir Mariza.
    bjs

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  4. Olha só o José Régio escrevendo fado.

    Todos os elementos lá, a saudade, o mar, o marinheiro que se aparta da amada, a promessa de fidelidade, a vontade de morrer, porque longe da amada...

    Não tem nada a ver (ou tem?) mas me lembrei do livro mais triste que há em Portugal. E também dos mais belos, meu Anto. Mas por que será que a beleza tem que ser triste?

    Jorge Luis Borges responde no jeito lá dele, que a felicidade se basta a si própria, a dor é que é preciso ser cantada. Ainda fico pensando na alegria, porém.

    E me lembro agora de um brasileiro. O grande alegre Mario de Andrade - a própria cara dele parecia um sorriso estampado para ser visto e gostado ("gostado" serai uma forma verbal de que ele gostava). Pois o bonacheirão Mario de Andrade disse num poema: "A própria dor é uma felicidade."

    Depois dessa, mais nada.

    Um beijo, d'além-mar.

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  5. Olá outra vez:) tens um desafio no clips.

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  6. Olá Carla,
    Desta vez também decidi lançar o desafio, independentemente de já o ter recebido do Armando tal como eu. Está num dos meus espaços o atomovida :)

    Bjo

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