terça-feira, 30 de março de 2010



um dia quando a ternura for a única regra da manhã


um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o príncipio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade.



in A criança em ruínas

de José Luís Peixoto

3 comentários:

  1. Belissímo.
    Não são necessárias mais palavras.

    Obrigado pela bela escolha.

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  2. Já conhecia este texto mas há imenso tempo que não o (re)lia, é verdadeiramente delicioso.

    Excelente escolha, Carla.

    Abraço.

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  3. Querida Carla,
    Uma escolha excelente! Gosto muito deste texto e, é sempre bom poder reler.
    Obrigada por o trazeres aqui!

    Bjo de Luz

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